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Foto do escritorA Vida no Cerrado

CARCARÁ: PEGA, MATA E COME

Por: Luiz Trindade -  Núcleo de Educação Socioambiental 


Os amantes da arte nacional podem concordar que a Maria Bethânia é um fenômeno da natureza, mas você já parou para pensar que a cantora tem uma forte relação com um animal do Cerrado? Sim, a tão icônica performance da música "Carcará" realizada pela artista apresenta essa ave tão imponente que ocorre no território cerratense. Quer conhecer mais sobre o carcará juntando conhecimentos científicos e essa tão emblemática canção da música brasileira?


"Carcará", música de João do Valle, foi performada por Bethânia no espetáculo "Opinião" em 1965, quando a artista tinha apenas 17 anos, foi um grande marco inicial para sua carreira (Disponível no Youtube: Maria Bethania - Carcará (1965) | Opinião - HD). Durante a apresentação, ela faz o uso de movimentos, expressões faciais e mudanças no tom de voz para representar os diferentes padrões comportamentais da ave. 

Maria Bethania - Carcará (1965) | Opinião - HD - Youtube.com


"Carcará

Pega, mata e come

Carcará num vai morrer de fome

Carcará

Lá no sertão"


O carcará (Caracara plancus) recebeu esse nome pela onomatopeia indígena que reproduz o som que a ave produz,  mas possui outros nomes populares, como: caracará, carancho, gavião-de-queimada e gavião-calçudo. Mesmo que chamado de gavião em algumas regiões, ele é da família Falconidae, sendo um parente distante dos falcões. É uma ave de rapina, ou seja, faz o que a música nos conta: pega, mata e come por ser um predador. 


O valente e adaptado carcará tem como moradia a maior parte do território brasileiro e grande parte  do continente americano, estando presente em diversos biomas e climas diferentes. É bem comum no Cerrado, mas também é um personagem típico da caatinga, ‘’lá no sertão’’ como Bethânia canta. São classificados com o estado de conservação "pouco preocupante" pela IUCN.

Foto por Sérgio Cedraz


"É um bicho que avoa que nem avião

É um pássaro malvado

Tem o bico volteado que nem gavião"


Por mais que seja muitas vezes encontrada no chão correndo ou se alimentando, a ave é conhecida pelo seu voo que pode alcançar elevadas alturas. Podem pesar entre 780 gramas e quase 1 kg quando adultos, com a envergadura de até 123 cm. Quando adultos, possuem a maior parte do corpo coberto por penas escuras que variam entre o marrom e o preto, com parte das asas, pescoço e parte da cauda em um tom de branco que intercala com riscas marrom e pretas, assim como o peito. Também possuem o topo da cabeça escura, o que lembra um cabelo. Possuem longas pernas amarelas e a área ao redor do bico com uma forte cor amarelada ou alaranjada. Carregam instrumentos mortais: seu bico volteado que nem gavião, mas menos curvado, além das grandes garras para capturar suas presas. 

Foto por Marcelo Camacho


"Carcará quando vê roça queimada

Sai voando, cantando, carcará

Vai fazer sua caçada (carcará)

Carcará come inté cobra queimada"


Um comportamento adaptativo muito interessante da ave, que lhe dá o nome de gavião-de-queimada em alguns lugares, fica explícito na música: é sua relação com o fogo e as queimadas. Comportamento que pode ser observado com frequência na época de queimadas no Cerrado, as quais em sua maioria são criminosas. O ótimo caçador carcará usa o fogo ao seu favor, caçando os pequenos animais que tentam fugir do fogo, podendo até comer animais que não resistiram, como uma cobra queimada. 

Foto por Paulo Noronha


Essa ave oportunista come de tudo, é conhecida por ter um padrão alimentar bem diverso. Caça e se alimenta de pequenos mamíferos, répteis, aves, anfíbios, invertebrados e pode ser muito encontrado em carcaças, inclusive de animais silvestres atropelados. Como se adaptou muito bem ao ambiente urbano, infelizmente também é comumente encontrado comendo lixo ou caçando pombos.

Foto por Nelson Azevedo Filho


Na reprodução, machos e fêmeas cooperam, ambos os pais participam da incubação dos ovos, geralmente 2 ou 3 ovos são colocados em ninhos característicos construídos com galhos no topo de árvores, mas podem usar ninhos de outras espécies. Geralmente, os filhotes saem do ninho quando alcançam 3 meses de idade, mas ainda são cuidados e ensinados pelos pais por um período de tempo até que se tornem independentes.

Foto por André Mendonça


Para finalizar a apresentação do querido carcará, existe uma inusitada relação de amizade com outra ave: o urubu. Esses dois são vistos muitas vezes voando juntos ou partilhando a mesma carcaça de animal. Mas o comportamento mais fofo entre essas aves amigas é o ‘’allopreening’’ ou  catação, uma ave limpa a outra com o bico fazendo a catação em busca de parasitas, o que faz parecer que estão trocando carícias, isso é muito raro de ser observado em animais de espécies diferentes. 

Carcarás (Caracara plancus) e urubu-de-cabeça-preta (Coragyps atratus) - Foto por Theodoro Prado




Referências: 

BirdLife International. Caracara plancus. The IUCN Red List of Threatened Species 2016. Disponível em: <https://www.iucnredlist.org/species/22733377/95058702>


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